Disciplina - Sociologia

Sociologia

17/09/2007

Relatório divulgado pela Fiocruz revela que escorpiões contribuem com 35%

Relatório divulgado pela Fiocruz revela que escorpiões contribuem com 35% dos casos de envenenamento por animais peçonhentos, que são agora a principal causa de intoxicação humana. Os agrotóxicos continuam sendo agentes mais letais
Fábio de Castro escreve para a “Agência Fapesp”:
O Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) acaba de divulgar um relatório com os dados mais recentes sobre intoxicações em humanos no Brasil, referentes a 2005.
As intoxicações por medicamentos, que lideravam os casos até 2004, foram superadas pelos casos envolvendo animais peçonhentos – mais de um terço causado por escorpiões. O Sinitox é coordenado pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Foram registrados, em 2005, 84.456 casos de intoxicação humana no Brasil. Os dados vieram de 28 dos 34 Centros de Informação e Assistência Toxicológica em atividade no país naquele ano.
Segundo Rosany Bochner, coordenadora do Sinitox, em 2005 os animais peçonhentos responderam por 23.647 (28%) dos casos de intoxicações em seres humanos no Brasil. Desse total, 8.208 (35%) envolveram escorpiões. As serpentes contribuíram com 4.944 (21%), as aranhas com 4.661 (20%) e os demais animais peçonhentos com 5.834 (25%).
Os casos de intoxicações por medicamentos vieram logo atrás, com 26% do total. No entanto, de acordo com a pesquisadora, a inversão das posições pode ser efeito de uma distorção causada pela ausência de dados do Centro de Controle de Intoxicações de SP (CCI/SP) em 2005.
“O centro de SP é o segundo maior em número de notificações, atrás do centro de Porto Alegre. Tradicionalmente, o centro da capital paulista apresenta cerca de 4 mil intoxicações por medicamentos. Em 2005, o local não participou do levantamento por problemas operacionais e isso pode ter baixado a participação de medicamentos”, disse Rosany à Agência FAPESP.
Escorpiões em alta
Segundo a coordenadora do Sinitox, o que mais chamou a atenção nos novos dados é que os escorpiões ultrapassaram – em muito – as serpentes em número de acidentes. “Prevíamos essa tendência desde 2002 e ela começou a aparecer em 2004. Agora, foi confirmado um grande aumento dos acidentes com escorpiões”, disse.
A pesquisadora observa também que houve um aumento importante do número de mortes causadas pelo animal. “Em 2004 tivemos quatro óbitos relacionados a acidentes com escorpiões. Em 2005, o número saltou para 16. É um aumento de 300%, na maior parte envolvendo crianças”, disse.
Para Rosany Bochner, a expansão de áreas urbanas sem planejamento, solos empobrecidos e pouco acesso ao saneamento básico podem ser razões do aumento de casos de envenenamento por escorpiões.
Os dados do Sinitox destacam que Pernambuco foi o estado que mais registrou acidentes com os escorpiões: cerca de 2,2 mil casos em 2005. Levantamentos anteriores indicaram grande incidência em áreas de pastos, com presença de barrancos e cupinzeiros, que são ocupados por populações de baixa renda.
“Essas populações vivem com pouca infra-estrutura e têm problemas com coleta de lixo. Os escorpiões convivem muito bem com o lixo urbano. Notamos que, nessas áreas, eles abandonam um comportamento típico da espécie, que é o canibalismo. Isso se deve a uma abundância de alimento nessas áreas”, disse Rosany.
Segundo a pesquisadora, a maior parte dos problemas está relacionada à espécie Tityus serrulatus, cujos indivíduos podem se reproduzir sozinhos. “Basta um deles ser carregado em uma caixa de frutas, por exemplo, para infestar uma nova área. Ele tem duas crias por ano, cada uma com 20 filhotes. Os hábitos noturnos fazem com que passe despercebido”, explicou.
A espécie pode estar entrando em áreas onde não estava presente antes, de acordo com a cientista. “Onde aparece o Tityus serrulatus, não se encontra nenhuma outra espécie, ela prevalece. Ela causa os acidentes mais graves. Acredito que o aumento da presença desse escorpião esteja ligado ao crescente número de óbitos”, disse.
Campeões de letalidade
A parcela mais expressiva dos casos de intoxicação está relacionada com animais peçonhentos e medicamentos, mas, segundo o relatório, os agrotóxicos causam o maior número de mortes (33%). Os medicamentos foram responsáveis por 18%, os raticidas por 11% e os animais peçonhentos por 9%.
“O número de mortes por intoxicação cresceu bastante de modo geral. Foram registrados 456 óbitos: 18% a mais em relação a 2004. O agente tóxico mais letal continua sendo o agrotóxico de uso agrícola. Quase 3% dos casos terminam em morte”, disse a cientista.
Segundo Rosany, no entanto, o impacto dos agrotóxicos pode ser ainda maior do que o mostrado pelos números. “Os dados só registram os casos agudos. Imaginamos que haja muitos casos crônicos que não são notificados”, disse. No total, os agrotóxicos de uso agrícola foram responsáveis por 5.577 notificações.
A pesquisadora da Fiocruz alerta que o segundo agente tóxico mais letal, o raticida, que mata 1,65% dos intoxicados, pode incluir também um agrotóxico de uso agrícola: o produto conhecido popularmente como “chumbinho”.
“Esse produto é um agrotóxico de altíssima toxicidade para lavouras de café, por exemplo, que é utilizado clandestinamente como raticida. Muitos dos casos notificados como intoxicação por raticida se referem ao uso desse agrotóxico”, explicou Rosany.
A coordenadora do Sinitox explica que em casos de intoxicação é necessário procurar serviço médico. Em caso de dúvidas e esclarecimentos, a população pode entrar em contato com o Disque-Intoxicação da Anvisa. O telefone é 0800-722-6001, a ligação é gratuita e o usuário é atendido por uma das 36 unidades da Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Renaciat), presente em 19 estados e no Distrito Federal.
“É importante ressaltar que o Disque-Intoxicação não é voltado apenas para a população em geral, que procura primeiros socorros. É uma orientação especializada que pode e deve ser usada pelos médicos que eventualmente tenham dúvidas sobre o procedimento a adotar”, destacou a pesquisadora.
Fonte: Jornal da Ciência - SBPC, 14 de setembro de 2007
Mais informações: http://www.fiocruz.br/sinitox
(Agência Fapesp, 14/9)
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